“DEUS ABENÇÕE OS PAIS MAUS”!
DE UM MAU PAI PARA OS MEUS FILHOS,
COM GRATIDÃO
Quando completei meio século de idade, a minha filha Ana, já com família constituída e a viver em outro Concelho; esteve em minha casa juntamente com o esposo, o Nuno e a sogra, a Mila.
Ao jantar estavam apenas os mais chegados como a minha irmã Rute, o Jorge, seu marido e meu cunhado e o filho, o Ruben.
Fora a minha esposa que combinara a ‘festa’ de aniversário com os nossos filhos.
Apenas um jantar mais… uma paródia em família…
Ma já antes a minha filha me tinha entregue o ‘presente’ com a carta que transcrevo no final.
O inicio da mesma despertou de imediato a minha curiosidade. “Deus Abençõe Os Pais Maus”!
Li-a. Sózinho. Sem ninguém ao meu lado… e algumas lágrimas teimosas desceram pela minha face.
Mas, também eu teimoso, não deixei que reparassem na minha emoção e, ‘armado em forte’, lá fui entrando nas brincadeiras da noite… sempre pensando no texto que tinha lido.
Não sei se foi a minha filhota que o escreveu sozinha, se teve a ajuda de alguém ou, se simplesmente o retirou da internete… também não é isso que mais importa.
O que me importa e profundamente ainda hoje está bem no fundo do meu coração de pai, é que valeu a pena ter sido um “Mau Pai”.
O Amor que os meus filhos teem pelos pais, espero sinceramente que seja transmitido aos meus netos, mesmo que Deus não permita que os conheça. Mas quero sempre que os meus filhos, A Ana e o Ismael; saibam que só teem o Pai que conhecem desta forma ‘ranzinza’, muitas vezes duro nas decisões, mas sempre preocupado com ambos (e até com o Nuno J ) (Ah! E o Ossama e a Shiva… … e a Sopas J), porque sempre os Amei muito e continuo a Amar, tenham eles os defeitos que tiverem para os outros.
Obrigado do fundo do coração pela carta, Anita.
Obrigado Ismael pelos momentos que temos passado juntos.
Obrigado, Filhos, pelo vosso Amor e Carinho ao longo de todos estes anos que não teem sido fáceis para nenhum de nós.
Com muito Amor,
O vosso Pai.
(Abaixo transcrevo o texto o texto que me foi entregue)
“DEUS ABENÇÕE OS PAIS MAUS”!
Um dia, quando os meus filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva um pai, eu hei-de dizer-lhes:
- Amei-vos o suficiente para ter insistido para que juntassem o vosso dinheiro e comprassem uma bicicleta, mesmo que eu tivesse possibilidades de a comprar.
- Amei-vos o suficiente para ter ficado em pé junto de vós, duas horas. Enquanto limpavam o vosso quarto… trabalho que eu teria realizado em quinze minutos.
- Amei-vos o suficiente para vos obrigar a pagar a pastilha que “tiraram” da mercearia e dizer ao dono: - Eu roubei isto ontem e hoje queria pagar.
- Amei-vos o suficiente para ter ficado em silêncio. Para vos deixar descobrir que o vosso amigo não era boa companhia.
- Amei-vos o suficiente para vos deixar assumir as responsabilidades das vossas acções, mesmo quando as penalizações eram tão duras que me partiam o coração…
- Amei-vos o suficiente para vos perguntar: - Onde vão, com quem vão e a que horas regressam a casa.
- Amei-vos o suficiente para vos deixar ver fúria, desapontamento e lágrimas nos meus olhos.
- Mas acima de tudo, eu Amei-vos o suficiente para vos dizer NÂO, quando sabia que me iriam odiar por isso.
Hoje estou contente.
Venci, porque no final vocês também venceram. E qualquer dia, quando os vossos filhos forem suficientemente crescidos para entenderem a lógica que motiva os pais, vocês irão dizer-lhes, quando eles vos perguntarem se os vossos pais eram maus, que sim, que éramos os piores pais do Mundo, porque:
- Enquanto os outros miúdos comiam doces ao pequeno-almoço, nós tínhamos de comer cereais, tostas e ovos…
- Os outros miúdos bebiam Pepsis ao almoço e comiam batatas fritas, enquanto que nós tínhamos de comer sopa, segundo prato e fruta. E, não vão acreditar, os nossos pais obrigavam-nos a jantar à mesa, o que era bem diferente de outros pais!!!
- Os nossos pais insistiram em saber onde nós estávamos a todas as horas, era quase uma prisão. Tinham de saber quem eram os nossos amigos e o que fazíamos com eles.
- Insistiam em que lhes contássemos que íamos sair mesmo que demorássemos uma só hora, ou menos…
- Nós tínhamos vergonha de admitir, mas eles violaram uma data de leis de trabalho infantil: - Nós tínhamos que fazer as camas, lavar a loiça, aprender a cozinhar, aspirar o chão, engomar a nossa roupa, ir despejar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis… Eu acho que eles nem dormiam a pensar em mais coisas para nos mandar fazer!
- Eles insistiam connosco para lhes dizer-mos a verdade, apenas toda a verdade, sempre a verdade.
- Na altura da adolescência, eles conseguiam ler os nossos pensamentos, o que tornava a vida mesmo chata.
- Os nossos pais não deixavam os nossos amigos buzinarem para nós descermos. Tinham de subir, bater à porta para eles os conhecerem …
- E quando toda a gente podia sair com doze ou treze anos, nós tivemos que esperar pelos dezasseis.
- Por causa dos nossos pais, nós perdemos experiencias fundamentais da adolescência Nenhum de nós esteve alguma vez envolvido em actos de vandalismo, violações de propriedades, nem foi preso por algum crime…
Foi tudo por causa deles!
Agora já saímos de casa, somos adultos, honestos e educados. Estamos a fazer a nosso melhor para sermos “maus pais”, tal como os nossos pais foram…
Eu acho que este é um dos males do Mundo de hoje: - Já não há suficientes “maus pais”.
Os meus pais foram “maus pais” e hoje dou-lhes graças por isso.
Tenciono ser assim mesmo com os meus pequeninos que um dia hão-de vir.
Precisamos de criar crianças que sejam bons adultos. Para um futuro melhor.
- Um beijo grande!
- Amo-te muito, pai!
(Ana Lopo)